quinta-feira, 9 de abril de 2009

Você é o que você consome! - IV



Levar em consideração todos os impactos que o consumo nosso de cada dia causa sobre a sociedade e a natureza é uma tarefa difícil, sim. Mas o cenário é promissor. Segundo pesquisa do instituto Akatu, 28% dos consumidores brasileiros já têm hábitos de compra sustentáveis, preferindo, por exemplo, produtos orgânicos (cuja produção visa à proteção dos recuros naturais, evitando, entre outros cuidados o uso de agrotóxicos). Parece pouco, mas pode-se notar que outros tipos de consumo consciente, menos "engajados", já ganham muito mais adeptos. Por exemplo: 75% dos brasileiros se preocupam em economizar água e luz com pequenas atitude do dia-a-dia, 45% planejam as compras com base em informações dos rótulo e 31% são adeptos do reaproveitamento e da reciclagem de materiais. Estamos no rumo.

O publicitário Marcelo Alemi, de 28 anos, é parte dessa turma. Há cerca de quatro anos, depois de ler uma reportagem sobre elementos tóxicos presentes nas pilhas comuns, ele passou a só usar recarregáveis, para produzir menos lixo. Desde que visitou uma grande empresa do setor avícola, parou de comer frango industrializado, por não concordar com as condições nas quais os animais são criados. Também usa sacolas retornáveis no mercado, não pede o comprovante de pagamento do cartão de débito para poupar papel e só compra eletrodomésticos com o selo Procel, que identifica os produtos que menos desperdiçam energia. "Procuro me manter informado sobre temas como sustentabilidade e ecoeficiência e, sempre que posso, mudo meus hábitos para colaborar", conta.

De você eu não compro

Quando evita comprar de empresas que não agem da maneira que ele considera correta, Marcelo lança mão de um artifício que há séculos é arma na defesa dos direitos dos cidadãos: o boicote. "Esse tipo de manifestação não violenta tem sido usado para protestar contra questões globais ou nacionais, tais como práticas trabalhistas injustas, liberdades civis, discriminações, direitos humanos, proteção aos animais e ao meio ambientes", afirma a pesquisadora Marta Caputo, que escreveu uma dissertação de mestrado sobre o assunto.

Um dos cacos mais célebres foi o boicote aos produtos britânicos liderado nos anos 1930, na Índia, por Mahatma Gandhi. Na época, o país era uma colônia do Reino Unido e lutava pela independência. O pacifista Gandhi mobilizou a população para que deixasse de comprar tudo o que fosse britânico, como tecidos e roupas, mesmo que para isso as pessoas tivessem que voltar a usar teares manuais. o prejuízo causado pelo boicote foi fundamental para pressionar o Reino Unido a libertar o país.

Na campanha pró-responsabilidade social, os boicotes também já provaram ser eficientes. Um do casos mais conhecidos aconteceu com a multinacional de tênis e artigos esportivos Nike. em 1997, um vazamento dos dados de uma auditoria interna revelou ao mundo que os funcionários de uma fábrica da marca no Vietnã trabalhavam em uma situação altamente degradante. Eram expostos a agentes cancerígenos, não usavam equipamentos de segurança, tinham problemas respiratórios e recebiam apenas 10 dólares por 65 horas de trabalho semanal. Apesar da repercussão internacional a Nike não admitiu os fatos. Protestos e campanhas de boicote pipocaram por todo o mundo, levando os produtos da marca a encalharem nas lojas. Em dois anos, as ações da empresa na Bolsa de Nova York caíram 43%, um enorme prejuízo financeiro e de imagem. Sem saída, a Nike assumiu as falhas e comprometeu-se a corrigi-las. A partir de então, suas fábricas passaram a se observadas por ONGs internacionais.

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